segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Medicamentos em excesso piora o quadro de Enxaqueca

Se existisse um tratamento ideal para enxaqueca, ele começaria em procurar um médico se os episódios de dor fossem mais frequentes do que uma vez por mês. Após eliminar causas graves – como tumores e acidente vascular cerebral –, o médico seguiria com a identificação dos gatilhos da dor e com tratamentos melhor indicados. Na prática, porém, o problema é tratado de forma imediatista: Quando a dor chega, algum analgésico, em geral sem qualquer indicação médica, é sempre a primeira opção.

“O uso excessivo e sem indicação médica de analgésicos para dor de cabeça já mostrou que esse é um comportamento perigoso, que pode agravar a intensidade e a frequência das crises” garante o neurologista Dr. Alan Rapoport (*), especialista em dores de cabeça e enxaqueca .Entre as centenas de tipos de dor de cabeça descritos pela medicina, a enxaqueca é o mais estudado. Não é para menos. As crises, que podem ser até diárias, causam dores incapacitantes e uma série de sintomas desagradáveis como tonturas, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz,ruídos e odores. Quem tem enxaqueca em geral não consegue trabalhar durante as crises.

“As pessoas sentem tanto incômodo que se isolam em um quarto escuro, se enchem de remédios e esperam a dor passar para seguir com suas vidas” conta Rapoport.
Uma recente pesquisa realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina e num universo de 3.848 pessoas nas cinco regiões do País encontrou-se uma prevalência de enxaqueca nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, de 9,5%, 8,5% e 13,6%, respectivamente. Na população do Sudeste e do Sul, a prevalência foi ainda mais alta: 20,5% e 16,4%.

Melhor tratamento:

Hoje se sabe que a enxaqueca é causada por uma série de pequenas alterações na química e nos circuitos dos neurônios, especialmente na região do cérebro ligada à visão. Por isso, explica Rapoport, antes da dor, um terço dos portadores tem uma espécie de distúrbio visual conhecido com aura.

Com tantos sintomas ruins, fica difícil resistir ao apelo de medicamentos que resolvem as crises, às vezes de forma bem rápida. Mas é possível controlar a enxaqueca com um arsenal de tratamentos disponíveis que inclui técnicas de relaxamento e massagem e gerenciamento do estresse e mudanças comportamentais – identificar os gatilhos da dor e aprender a gerenciá-los ou evitá-los pode reduzir a intensidade e principalmente a frequência das crises.

Quando tudo isso não é suficiente, um amplo leque de medicamentos pode entrar em ação para ajudar.São usados medicamentos como os triptanos, as ergotaminas entre outros. Uma novidade recente é o uso da toxina botulínica – o nome Botox é, na verdade, uma marca comercial que nomeia essa substância.

Nos últimos anos, dois grandes estudos idênticos, com portadores de enxaqueca crônica, ou seja, mais de 15 crises por mês, mostraram que ela melhorava os episódios de dor em relação a quem recebia o placebo (tratamento sem efeito).

Pesquisas também vêm mostrando que algumas vitaminas e minerais, quando tomados diariamente, ajudam a reduzir a intensidade e a frequência das crises.Citamos como exemplos a vitamina B2 (riboflavina), a coenzima Q10, o magnésio e a melatonina, uma substância que está ligada aos ciclos de sono e vigília do corpo.

“São substâncias que existem naturalmente no corpo. Repor ou até aumentar os níveis delas pode ajudar algumas pessoas. Infelizmente, não existe um único tratamento que funcione para todo mundo, porque existem centenas de tipos de dor de cabeça. Alguns respondem muito bem a um medicamento que para outros não faz efeito algum.” diz Rapoport.

Entre remédios já em uso e novas drogas ainda em fase de pesquisas, o neurologista garante que é possível combater a dor com diferentes mecanismos de ação e novas vias de administração.

“Há drogas injetáveis, sprays nasais e até inaladores, que atuam mais rapidamente do que os medicamentos orais. Hoje estão em estudo adesivos (patches) para colocar na pele e até uma substância em pó, administrada por via nasal” conclui.




 

(*)Dr. Alan M. Rapoport: É diretor e co-fundador do The New England Center for Headache, em Stamford, Connecticut, e Diretor Médico da Unidade de Internação de Dor de cabeça em Greenwich Hospital. Ele é Professor Assistente de Neurologia Clínica da Escola de Medicina da Universidade de Yale em New Haven.

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