terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ENXAQUECA


A dor de cabeça é uma das queixas mais freqüentes na prática médica do dia-a-dia e constitui um importante problema de saúde pública no mundo inteiro. Estima-se que mais da metade da população apresenta algum tipo de cefaléia em alguma fase da vida. Esse tipo de queixa constitui uma das causas mais freqüentes de absenteísmo, e seu impacto socioeconômico é muito grande.
Nas últimas décadas houve avanços significativos no estudo das cefaléias, principalmente no que tange aos mecanismos fisiopatológicos, fatores etiológicos e à abordagem terapêutica.Há mais de 200 tipos diferentes de cefaléia conhecidos e o capítulo do diagnóstico diferencial dessa queixa é um dos mais ricos da medicina.
As cefaléias podem ser desdobradas em primárias e secundárias, sendo a enxaqueca ( ou migrânea) uma das cefaléias primárias mais freqüentes.

Definição

A enxaqueca é uma forma de cefaléia crônica primária que pode ser definida como uma reação neurovascular anormal que ocorre num organismo geneticamente vulnerável e que se exterioriza, clinicamente, por episódios recorrentes de cefaléia e manifestações associadas que geralmente dependem de fatores desencadeantes. Essa definição, embora incompleta, tem o mérito de incorporar dois fatores fundamentais da enxaqueca: o endógeno(genético) e o exógeno(ambiental). Quando ocorre a conjugação desses fatores pode exteriorizar-se a crise enxaquecosa. Embora a enxaqueca seja um quadro crítico, em certos pacientes ela pode ser mais abrangente configurando o chamado episódio enxaquecoso que evolui em cinco fases: sintomas premonitórios, aura, fase álgica(cefaléia e manifestações associadas), resolução da fase álgica e quadro pós-crítico ou de recuperação.
O caráter genético da enxaqueca é inquestionável embora em muitos casos seja ainda impreciso. O histórico familiar da enxaqueca muitas vezes constitui um pré-requisito para o diagnóstico. A freqüência do quadro enxaquecoso em algumas famílias sugere uma transmissão do tipo dominante. A freqüência da enxaqueca em gêmeos idênticos é maior do que em gêmeos fraternos. Algumas formas de enxaqueca não têm um padrão genético estabelecido e podem obedecer a mecanismos multifatoriais.
Os fatores exógenos ou ambientais podem atuar como desencadeantes da crise. Eles são diversificados e entre os principais podem ser mencionados: distúrbios emocionais (ansiedade, depressão , irritabilidade...), modificações do ciclo vigília-sono ( excesso ou privação de sono), ingestão de determinados alimentos (chocolate, queijos maturados, produtos defumados, uso de glutamato monossódico, como tempero, presença de conservantes químicos em certos alimentos), ingestão de bebidas alcoólicas ( principalmente vinho tinto), jejum prolongado, modificações hormonais ( menstruação, uso de anticoncepcionais, reposição hormonal), exposição a odores fortes(perfumes, gasolina, creolina...), exposição a estímulos luminosos intensos, exercícios físicos intensos ou prática esportiva, viagens aéreas longas, altitudes elevadas, movimentos de aceleração da cabeça e outros.A importância de alguns desses fatores pode ser superestimada pelo paciente, razão pela qual eles devem ser melhor avaliados.

Idade, sexo e freqüência

A enxaqueca costuma ter início na infância, adolescência ou nos primórdios da idade adulta, embora possa ocorrer em períodos mais tardios da vida. O pico de prevalência é atingido entre os 30 e 45 anos. Na puberdade há ligeira predominância nos meninos, entretanto, após esse período, há nítida predominância no sexo feminino. A enxaqueca é altamente prevalente e estima-se que atinja 12% da população, sendo mais freqüente na mulher na razão de 3:1.


Quadro clínico

A enxaqueca sem aura é a mais freqüente na prática clínica e representa aproximadamente 70% das formas apresentadas. Pode ser definida como cefaléia idiopática, recorrente, manifestando-se por crises com duração de 4 a 72 horas. Do ponto de vista clínico, a dor costuma apresentar, localização unilateral, pulsátil, intensidade variável (fraca, moderada, forte, muito forte), sendo exacerbada pelas atividades físicas de rotina e costumam fazer parte da crise náusea e/ou vômitos, fotofobia,fonofobia e osmofobia. Os critérios para a caracterização da crise enxaquecosa exigem a presença de pelo menos uma das manifestações associadas (náusea, vômito, fotofobia, fonofobia e osmofobia). O diagnóstico de enxaqueca exige que o paciente tenha no mínimo, cinco crises que preencham os critérios considerados.
A enxaqueca com aura é menos freqüente e representa aproximadamente de 20% a 30% das formas clínicas de enxaqueca. Essa forma é caracterizada pela presença de aura, exterioriza-se por manifestações neurológicas reversíveis que sinalizam comprometimento do córtex cerebral ou do tronco encefálico. A aura costuma durar de 5 a 20 minutos, mas pode chegar a uma hora. A crise enxaquecosa tem início com a aura (precedida ou não por uma fase prodrômica) e sucedida ou interpenetrada pela fase álgica, que se instala nos minutos subseqüentes, geralmente de 15 a 20 minutos após o início da aura. A aura pode ser visual (a mais freqüente), sensitiva, motora ou ser traduzida por distúrbios de linguagem. Com certa freqüência as auras são mistas.
Para confirmar o diagnóstico de enxaqueca com aura é preciso que o paciente apresente, pelo menos, duas crises que preencham esses critérios. Habitualmente, a fase álgica desse tipo de enxaqueca é mais curta: 4 a 6 horas, podendo, entretanto, ser prolongada e atingir 72 horas. Alguns enxaquecosos podem apresentar as duas formas clínicas.

Diagnóstico

O diagnóstico da enxaqueca é clínico, não havendo marcadores biológicos para confirmá-lo. Mesmo outros exames complementares (registros gráficos, exames de imagem TC ou RNM, ou angiografia cerebral) não contribuem para firmar o diagnóstico, sendo, entretanto, úteis para o descarte de patologias estruturais que provocam cefaléia semelhante a enxaqueca.A avaliação de um paciente com cefaléia depende fundamentalmente de uma história cuidadosa e de exame clínico pormenorizado portanto é imprescindível a Anamnese , que é uma palavra derivada do grego e significa nova lembrança .Descrita assim por Alan Feinstein : “ A Anamnese , o procedimento mais sofisticado da medicina é uma técnica de investigação extraordinária , em pouquíssimas outras formas de pesquisa científica o objeto observado fala.”
O diagnóstico diferencial da enxaqueca deve ser feito com outras cefaléias primárias: cefaléia tipo tensional episódica, cefaléia em salvas, hemicrania contínua ,etc. Particularmente na enxaqueca com aura deve ser considerado o diagnóstico diferencial com manifestações epilépticas e com os ataques isquêmicos transitórios.

Tratamento

O tratamento desse tipo de cefaléia deve ser personalizado: isso significa que devemos tratar o enxaquecoso e não a enxaqueca. O manejo terapêutico desse doente requer uma abordagem abrangente, levando em conta seu perfil psicológico, seus hábitos de vida, a presença de fatores desencadeantes, o tipo de crise e a sua freqüência, duração e intensidade. É importante considerar no tratamento as medidas gerais e as medidas farmacológicas. Deve-se explicar ao paciente, em termos acessíveis, o que é a enxaqueca e o que pode ser feita para tratá-la. Evitar fatores desencadeantes, desde que detectados, é muito importante no êxito do tratamento.
O tratamento farmacológico do enxaquecoso deve ser feito sempre por médico especializado no tratamento de cefaléias, entretanto, somente 60% dos pacientes procuram auxílio especializado e muitos apelam para a automedicação ou aceitam a recomendação do balconista da farmácia ou de um vizinho ou de um colega de trabalho, também sofredor do mesmo mal. Os riscos desse comportamento são óbvios: efeitos adversos das drogas, cefaléia crônica diária pelo uso regular de analgésicos e a não realização do tratamento profilático.
O tratamento farmacológico pode ser desdobrado em sintomático (tratamento da crise) e profilático.
Os recursos farmacológicos incluem medicamentos não-específicos (analgésicos comuns, analgésicos narcóticos, antiinflamatórios não-esteroidais), medicamentos específicos (derivados ergóticos) e medicamentos específicos e seletivos (triptanos). Com exceção dos triptanos, aos demais medicamentos devem se associar drogas adjuvantes ( metoclopramida, domperidona, cafeína), com o objetivo de combater a náusea e o vômito e de melhorar a absorção gástrica.
O tratamento crítico da enxaqueca requer algumas orientações que devem ser repassadas ao paciente. O uso de analgésico deve ser feito no início da crise, comumente associado a drogas gastrocinéticas e antieméticas. Se sintomas como náusea e/ou vômito são de instalação precoce nas crises, devemos evitar as drogas de apresentação oral e utilizar formas alternativas de apresentação ( supositório, spray nasal , ampolas, comprimidos sublinguais ou disco liofilizado).
Nas formas fracas e moderadas dá-se preferência a analgésicos comuns (ácidos acetilsalicílico, paracetamol, dipirona), aos antiinflamatórios não-esteroidais (naproxeno sódico, ibuprofeno,nisulide,cetoprofeno,etodolaco...). Os analgésicos narcóticos (codeína, derivados da morfina) devem ser evitados, mas poderão ser utilizados na gestante enxaquecosa e como medicação de resgate. Nas crises fortes ou muito fortes, ou quando o pico de dor é rapidamente alcançado, deve-se lançar mão de drogas mais potentes no combate à dor ( derivados ergóticos, triptanos). Deve-se sempre respeitar as contra-indicações dos medicamentos antienxaquecosos.
O tratamento profilático deve ser feito tendo em mira vários objetivos: aliviar o paciente do sofrimento e com isso melhorar a sua qualidade de vida; evitar a sua incapacidade temporária (física e intelectual) e evitar o uso prolongado e, às vezes, abusivo de analgésicos, que além de efeitos adversos (potencialmente perigosos) podem induzir um quadro de cefaléia crônica diária.
Os critérios fundamentais para a instituição do tratamento profilático são: freqüência, intensidade e duração das crises. A conduta preconizada para iniciar esse tipo de tratamento é a ocorrência de, pelo menos, uma a duas crises/mês, entretanto, crises de longa duração ( dois a três dias) e de grande intensidade podem justificar um tratamento de manutenção, mesmo com crises mais espaçadas.
As drogas profiláticas de primeira escolha são os bloqueadores de canal de cálcio, os betabloqueadores e os antidepressivos tricíclicos(amitriptilina,nortriptilina); também são eficazes o maleato de metisergida, o pizotifeno e o divalproato de sódio e o topiramato. Das cinco classes dos bloqueadores de canal de cálcio, o único comprovadamente eficaz é a flunarizina e dos bloqueadores beta- adrenérgicos, o mais eficaz é o propranolol e o atenolol. Os inibidores de MAO são também eficazes, mas, em virtude de seus efeitos colaterais e interações medicamentosas e/ou alimentares, são pouco usados. Outras drogas são de baixa eficácia ou de eficácia duvidosa (verapamil, fluoxetina, ciproeptadina, gabapentina, etc.). O toxina botulínica vem sendo utilizada no tratamento profilático da enxaqueca.
O tratamento profilático deve ser feito, na medida do possível, em regime de monoterapia e excepcionalmente com drogas associadas. A estratégia é tratar o paciente de modo intermitente, com períodos de “cura” de 6 a 12 meses ou mais.

Fonte:“Cefaléias Primárias: Aspectos Clínicos e Terapêuticos”.Fernando Ortiz;Edgard Raffaelli Jr e col. ( 2ª Edição). São Paulo: Editora Zeppelini, 2002.

ENTREVISTA SOBRE ENXAQUECA


Enxaqueca:Um tormento que aflige milhões de brasileiros!!
 Mal que atinge milhões de brasileiros, a enxaqueca pode ser tratada    com medicamentos eficazes!! 

A cabeça  pulsa e dispara uma dor tão forte,que dá a sensação que o cérebro vai explodir.Os olhos fogem da claridade, qualquer ruído ecoa como um martelo no interior da cabeça e há intolerância à cheiros.É mais ou menos assim que se sentem as pessoas que sofrem de enxaqueca,cerca de 34 milhões de pessoas ,em sua maioria mulheres. Uma das 200 formas de cefaléia (dor de cabeça), a enxaqueca  - também conhecida como migrânea - tem características próprias como dor pulsante, com duração entre quatro e 48 horas, freqüentemente acompanhada de náuseas e vômito.Sabemos hoje que a enxaqueca é uma doença crônica que pode ser controlada através de tratamento profilático,enfatizando a necessidade de atenção médica especializada.
Apesar de 24% das pessoas que sofrem de enxaqueca apresentarem quatro ou mais crises todo mês e 49% relatarem incapacitação grave ou requererem repouso durante as crises , menos de 5% de todos os pacientes que têm enxaqueca recebem tratamento profilático.Portanto,pode-se estimar a dimensão do impacto sócio-econômico negativo que a falta de tratamento adequado pode gerar na nossa sociedade, principalmente se avaliarmos que a incidência desta doença ocorre nas idades de 35 a 45 anos,ou seja,indivíduos em fase economicamente ativa.Por tudo isso que a Enxaqueca,é considerada um flagelo para milhões de brasileiros.

Dr.Fernando Ortiz
O médico neurologista Dr.FERNANDO ORTIZ, Pós-graduado em Saúde Pública /USP,especializado em Tratamento de cefaléias e enxaqueca,membro da Sociedade Brasileira de Cefaléia,da Academia Brasileira de Neurologia e Diretor Clínico do CEnTE(Centro Especializado No Tratamento de Enxaqueca),alerta para o risco do uso abusivo de analgésicos e fala nesta Entrevista Exclusiva ao Cente, de medicamentos eficazes no combate à enxaqueca e esclarece outras dúvidas sobre  esta afecção.

Dr.Fernando Ortiz é também editor e Co-autor do livro:"Cefaléias Primárias:Aspectos Clínicos e Terapêuticos".E é o médico responsável pelo Website www.cente.med.br (site com grande conteúdo de informações sobre enxaqueca).Leia à seguir a entrevista na íntegra:
 

1.CEnTE:Existem pessoas que consideram dor de cabeça sinônimo de enxaqueca?

DR.FERNANDO ORTIZ –Sim, talvez porque enxaqueca seja a dor de cabeça que mais aflige e chama a atenção por causa dos sintomas que a acompanham (intolerância à luz, ao barulho,ao cheiro, vômitos, mal-estar geral ) e a palavra tenha-se transformado em sinônimo de dor de cabeça. Na realidade, já foram descritos 200 tipos de dores de cabeça. Enxaqueca é apenas um dos tipos de Cefaléia(dor de cabeça) e manifesta-se mais nas mulheres (80%) do que nos homens (20%).


2.CEnTE:Em que fase da vida de uma pessoa a enxaqueca se manifesta com mais freqüência?

DR.FERNANDO ORTIZ– Enxaqueca não é somente dor de cabeça. É uma síndrome com no mínimo 60 sinais e sintomas dos quais a dor de cabeça é apenas um deles. Por isso, já na infância eles podem começar a aparecer. É o caso das crianças que sentem dores abdominais inexplicáveis, distúrbios de humor,com quadro de cinetose, isto é, que enjoam, vomitam, têm tontura quando andam de condução ou em brinquedos giratórios.Trata-se de manifestações para as quais não se encontra explicação neurofisiológica e a criança, a partir dos seis ou sete anos, começa a queixar-se de cefaléias que se vão avolumando até se tornarem insuportáveis na vida adulta.

3.CEnTE:Crianças que obrigatoriamente apresentam esse quadro vão desenvolver enxaqueca na fase adulta?

DR.FERNANDO ORTIZ– Não obrigatoriamente. O paciente pode passar a vida inteira tendo pequenos sintomas e nunca ter dor de cabeça.


4.CEnTE:Como você explicaria as mulheres serem mais vulneráveis à enxaqueca?

DR.FERNANDO ORTIZ – Sob o ponto de vista dos hormônios sexuais, o cérebro das mulheres sofre duas modificações no mês. Durante quinze dias produz estrógeno e, nos outros quinze, progesterona. Essa mudança constante afeta o sistema límbico, gerador dos hormônios que estimulam a produção dos hormônios sexuais. É provável que essa seja a causa de as mulheres serem mais vulneráveis à incidência de enxaqueca.


5.CEnTE:Será que as pessoas cujas primeiras crises de dor de cabeça se instalaram na meia-idade tiveram esses sintomas na infância?

DR.FERNANDO ORTIZ -Provavelmente tiveram. Se for feito um interrogatório sobre a vida passada dos pacientes que começaram a manifestar o problema aos 30 ou 40 anos, veremos que esses sinais sempre estiveram presentes. É interessante ressaltar também que assim como a enxaqueca pode aparecer e piorar na menopausa, pode também ocorrer remissão nessa fase da vida. No entanto, em muitos casos, essa patologia é substituída por uma manifestação labiríntica.

6.CEnTE:Quais as principais características da dor de cabeça provocada pela enxaqueca?

DR.FERNANDO ORTIZ – A dor pode manifestar-se de um lado só do crânio(mas pode acometer o crânio inteiro). Geralmente é uma dor latejante,de intensidade forte ou muito forte acompanhada de intolerância à luz, cheiros, barulhos e movimentos e pode durar de 4 a 72 horas. Todos os sentidos ficam exacerbados durante a crise e qualquer estímulo extra constitui um tormento para o paciente que procura ficar num lugar escuro e quieto.O começo da dor se dá pela liberação do neurotransmissor noradrenalina,seguida por uma série de outros fenômenos que culminam com a liberação de substâncias que vão atingir principalmente as artérias extracranianas produzindo um processo inflamatório que desencadeam a crise de enxaqueca.


7.CEnTE:Existem pessoas que ainda acreditam que a enxaqueca é uma doença do fígado. Existe alguma relação entre a enxaqueca e o fígado?

DR.FERNANDO ORTIZ -Como eu havia dito anteriormente, nas crises de enxaqueca o que ocorre é a liberação de noradrenalina .A noradrenalina chega a promover o aparecimento de substâncias inflamatórias nas artérias do couro cabeludo - na verdade, o que dói na enxaqueca são exatamente essas artérias que apresentaram o processo inflamatório.Isto é o que de fato ocorre,agora dizer que a enxaqueca vem do fígado é retroceder 2000 anos no tempo,voltando à Grécia Antiga, onde se achava que o fígado era o órgão mais importante do corpo,por ser o maior órgão abdominal.Aliás,o mito do fígado é usado não só para enxaqueca como também para boca amarga,tonturas,mal-estar geral e inúmeros outros sintomas vagos.A doença do
fígado é uma crendice que,embora relativamente inócua dá nome a inúmeros sintomas funcionais sem gravidade.As verdadeiras doenças do fígado são hepatite,cirrose e câncer,que não apresentam os sintomas descritos.


8.CEnTE:Existem sinais que antecedem as crises de enxaqueca e que ajudam a identificar sua aproximação?

DR.FERNANDO ORTIZ – Existem vários tipos de enxaqueca. Os mais importantes são a enxaqueca comum, hoje chamada de migrânea sem aura, e a enxaqueca clássica, ou migrânea com aura, que é bastante rara e representa apenas 1% dos casos.Na migrânea com aura, existem sinais que preconizam a crise. O paciente tem distúrbios visuais: enxerga pontos pretos ou em ziguezague, somente na metade de um campo visual. Esses sintomas duram de 10 a 20 minutos,cessam de repente e dão lugar a uma dor de cabeça tão forte que o indivíduo, que a sente pela primeira vez, imagina estar tendo um derrame ou ficando cego.Existem medicamentos específicos para o tratamento da AURA(Primidona),que quando usados ocorre acentuada melhora do quadro clínico.Na migrânea sem aura ou migrânea comum não existem esses fenômenos neurológicos e os sintomas que antecedem a crise dolorosa são mais tênues:sensação de fome, vontade de comer doces (porque há queda da serotonina), mudança de humor e mal-estar generalizado. Na verdade, a pessoa que sofre desse tipo de enxaqueca só percebe a aproximação da crise quando a dor se instala e vai crescendo de intensidade até ficar muito forte.


9.CEnTE:Qual é o momento certo para tomar analgésicos?

DR.FERNANDO ORTIZ – Se a pessoa tem poucas dores de cabeça, uma ou duas crises de enxaqueca por mês, o ideal é tomar analgésico assim que se inicie o processo doloroso. Agora, se as crises ocorrem 10 ou mais vezes por mês, não se deve tomar nenhum tipo de analgésico. Por quê? Porque no sistema nervoso central (SNC) existem células que produzem substâncias que combatem a dor chamadas de endorfina. O uso repetido de analgésicos atrofia o sistema produtor dessas substâncias e o paciente é obrigado a aumentar as doses de analgésicos porque a dor de cabeça se torna cada vez mais intensa. Por isso, quando atendo alguém em meu consultório que está tomando analgésicos todos os dias, suspendo a medicação, pois é preciso desenvolver sua defesa natural para ajudar a combater a dor.


10.CEnTE:Existem tratamentos preventivos para a enxaqueca?

DR.FERNANDO ORTIZ – Sim, existem tratamentos preventivos para a enxaqueca.O indicado é introduzir medicamentos preventivos que atuem diretamente sobre os neurotransmissores, pois em sua produção pode estar ocorrendo um erro para mais nos níveis de noradrenalina, ou para menos nos de serotonina. Antidepressivos, por exemplo Nortriptilina, produzem aumento nos níveis de serotonina o que ajuda a diminuir a freqüência e a intensidade das crises.

11.CEnTE:Por que se pede para os pacientes elaborarem um relatório diário a respeito de suas crises de enxaqueca?

DR.FERNANDO ORTIZ – O cérebro do portador de enxaqueca recebeu uma herança genética que condiciona, sob determinados estímulos, o aparecimento de uma descarga de noradrenalina, neurotransmissor responsável pela liberação de substâncias inflamatórias que causam a dor. Como o tratamento da enxaqueca é cheio de nuances, uma medida fundamental é pedir ao paciente que preencha um relatório diário sobre suas crises e sintomas, a fim de caracterizar perfeitamente o quadro, pois não basta controlar as crises dolorosas. É preciso cuidar de todas as manifestações da síndrome: labirintite, distúrbios do sono ,etc.Pacientes com enxaqueca apresentam, no mínimo, meia dúzia de sinais e sintomas que acompanham a dor. Se forem apenas ministrados medicamentos para agir sobre os neurotransmissores que provocam a crise, as dores melhoram, mas o paciente ainda não se sente bem.

12.CEnTE:Enxaqueca é hereditária?

DR.FERNANDO ORTIZ-A enxaqueca tem um caráter hereditário inquestionável. Entre 50 e 85% dos enxaquecosos têm um familiar com o mesmo problema.

13.CEnTE:Alguns alimentos desencadeam a enxaqueca.Os principais são chocolate,queijo e frutas cítricas.Explique-nos o Por quê?

DR.FERNANDOORTIZ-O chocolate,acrescento também o glutamato monossódico(tempero usado para realçar o sabor dos alimentos),os queijos amarelos(queijos curados) e vinho tinto são ricos em tiramina ou feniletilamina,substâncias simpatomiméticas que funcionam como desencadeadores de crises de enxaqueca.O que se deve fazer é alertar o paciente e fazê-lo verificar se alguma dessas substância desecadeia a crise, se for constatado que há alimento que provoca a dor,pedir a ele que se abstenha desse alimento até que ocorra a melhora da dor, pelo tratamento medicamentoso.Outros alimentos são relatados como provocadores de enxaqueca:Frutas cítricas,embutidos(salsicha e linguiça)e outros.Os embutidos são capazes de estimular o aparecimento da dor,porque na sua confecção são usados nitritos e nitratos como conservantes e realçadores da cor vermelha.Esses nitritos e nitratos são substâncias vasodilatadoras.E a dilatação de uma artéria inflamada provocará dor,portanto os embutidos devem ser evitados.Quanto às frutas cítricas,a intolerância a elas é rara e não há explicação científica para o fato!!

14.CEnTE:Todos os casos de enxaqueca, desde que orientados adequadamente, têm cura ?

DR.FERNANDO ORTIZ –  Não, mas há várias orientações para que o problema fique sob controle, seja com medicação ou afastando os fatores desencadeantes.O cérebro do enxaquecoso acha que é sua obrigação produzir dor de cabeça e, se a atacarmos de alguma forma, irá buscar outro mecanismo de neurotransmissores para produzi-la.Por isso é importante não abusar de analgésicos e submeter-se à tratamento com medicamentos que atuem não só sobre os neurotransmissores na medida certa, mas também sobre os outros sintomas.Agindo assim, é possível chegar à uma estabilização da doença,mantendo-se os pacientes livres de suas crises por longos períodos, melhorando a sua qualidade de vida.

15-CEnTE:Há riscos de pacientes com Enxaqueca sofrerem um AVC (Acidente Vascular Cerebral)?

DR.FERNANDO ORTIZ -Sim,pessoas que sofrem de Enxaqueca e não fazem tratamento apresentam mais riscos de sofrer um AVC.segundo estudos realizados no Canadá e na Holanda, mulheres que usam anticoncepcional oral e fumam formam um grupo de maior risco.O aumento do risco de AVC nos pacientes com Enxaqueca ocorre devido a diminuição da irrigação sangüínea no cérebro durante uma crise de Enxaqueca.
Convém ressaltar,que durante a crise de Enxaqueca o paciente sofre uma isquêmia cerebral rápida,que normalmente restabele-se sózinha.Mas,em alguns pacientes essa isquêmia se mantém provocando o que chamamos de Infarto enxaquecoso!!

16- CEnTE:É preciso fazer algum tipo de exame para diagnosticar esta afecção?

Dr.FERNANDO ORTIZ-Exames são solicitados freqüentemente a pacientes com suspeita de enxaqueca, como por exemplo: tomografia, raio-X e ressonância magnética ,mas não detectam o problema,eles apenas servem para afastar a possibilidade de outras doenças, como tumores. Na maioria das vezes, não são necessários. O diagnóstico da enxaqueca é clínico, feito no consultório a partir da Anamnese do Paciente ( histórico clínico do paciente )e  testes neurológicos.

17-CEnTE:Há esperança no surgimento de nova substância para minorar o sofrimento dos portadores de Enxaqueca?


DR.FERNANDO ORTIZ-Sim,uma nova droga foi lançada, por enquanto nos Estados Unidos. Originada de uma combinação de triptanos com anti-inflamatórios. Esse conceito foi originalmente sugerido no mundo inteiro, mas a Trexima© — novo fármaco — foi patenteada pelo laboratório americano Pozen.Este novo fármaco chegara ao Brasil e se for aprovado o seu uso pela Anvisa, sera mais uma arma contra o Flagelo da Enxaqueca!!
 
18.-CEnTE:Qual é o perfil dos pacientes atendidos no Centro Especializado No Tratamento de Enxaqueca

 DR.FERNANDO ORTIZ – A Cefaléia é uma das queixas mais frequentes na prática médica e constituí um importante problema de saúde pública.Portanto, mais da metade dos casos atendidos refere-se as cefaléias primárias. Geralmente são pacientes que chegam ao consultório com desesperança, porque já tentaram a automedicação,tentaram a receita dos vizinhos e até submeteram-se à uma verdadeira peregrinação à médicos.Nestes casos específicos devemos devolver-lhes a esperança e ao estendermos o nosso olhar para o saber e a ciência, fica a certeza que esse é o modo legítimo de buscarmos a melhoria da qualidade de vida daqueles que sofrem e nos confiam seus males e sofrimentos. Portanto, como muito se tem pesquisado sobre o assunto e muitos conhecimentos novos têm sido adquiridos, o estudo das Cefaléias tornou-se ferramenta indispensável ,para a melhor qualificação profissional e, consequentemente, na assistência ao paciente, razão fundamental do nosso trabalho.